Prólogo
Prólogo
Adam
Adam Black estava deitado de bruços na cama, com um braço pendurado na borda. Seu cabelo escuro estava bagunçado, o lençol mal o cobria. A luz do sol atravessava as cortinas, atingindo seu rosto, mas ele não se movia. Não queria levantar. Não queria enfrentar seu pai. Nem sua vida.
Ele odiava manhãs assim—silenciosas, muito claras, e cheias do peso de tudo que ele não pediu.
Dona Becky entrou. Ela era a empregada da casa desde que ele era criança. Ela não batia na porta. Nunca precisou.
“Hora de levantar, Adam,” ela disse gentilmente.
Adam gemeu e virou-se. “Bom dia, Dona Becky,” ele disse, com a voz baixa e cansada.
“Você não tem mais cinco anos,” ela sorriu. “Você tem reuniões hoje. Seu pai está esperando.”
Claro que estava.
Adam arrastou-se até o chuveiro, a água batendo em seu rosto como um tapa. Ele seguiu os passos—barbear, toalha, blazer. Não precisava se esforçar muito. Aos trinta e dois anos, ele sabia como parecer o homem que o mundo esperava que ele fosse. Rico, confiante, intocável.
Ele olhou no espelho, apertando a gravata. Seu reflexo mostrava um homem alto, branco, com olhos azuis penetrantes e traços marcantes. O tipo de homem que as pessoas notam quando ele entra em uma sala. O tipo de homem que as pessoas assumem que tem tudo.
Mas era só isso—uma aparência.
Ele ficou ali mais um momento, lembrando de como costumava ser. Antes das coisas esfriarem. Antes de sua mãe morrer.
Ele tinha apenas onze anos quando isso aconteceu. Ela teve um derrame enquanto dormia. Um dia ela estava lá, lendo histórias para ele dormir. No dia seguinte, silêncio. Sem despedida.
Tudo mudou depois disso. Seu pai se afundou no trabalho. Adam se afundou em mulheres, carros, festas—qualquer coisa que fosse rápida e barulhenta o suficiente para abafar a dor em seu peito. Ele não deixava ninguém entrar. Ele não fazia amor. Essa parte dele morreu no dia em que ela morreu.
Quando completou dezessete anos, Adam já era o centro das atenções. As garotas corriam atrás dele. Não apenas pela sua aparência, que já era impressionante, mas pelo charme que ele usava como uma segunda pele. Ele era esperto, astuto, e sempre sabia o que dizer para fazê-las derreter. Nas festas, as mulheres faziam fila para ter a chance de conversar com ele, dançar com ele, serem vistas ao seu lado.
Mas nunca durava. Adam não mantinha ninguém por perto. Relacionamentos para ele eram como tendências de moda—curtos e esquecíveis. Ele adorava a perseguição, a emoção, o afeto temporário. Mas no momento em que alguém queria mais, ele se afastava. Ele não era feito para o longo prazo. Não estava interessado em amor.
Ele construiu uma reputação—o solteiro mais cobiçado da cidade. Um bilionário destruidor de corações com um coração gelado.
Ele entrou na sala de jantar, sentindo o cheiro de café fresco. Seu pai estava na cabeceira da longa mesa, grudado ao tablet.
“Bom dia, pai,” Adam disse.
“Você está atrasado,” seu pai respondeu.
“Estou aqui.”
Seu pai olhou para cima. “O Aston Martin quebrou?”
“Sim,” Adam disse casualmente, pegando uma fatia de torrada. “Sem problema. Vou mandar para a oficina. Ou talvez apenas comprar outro.”
Seu pai nem piscou. “O que quer que te faça aparecer esta noite parecendo um verdadeiro Black.”
"Claro," disse Adam, forçando um sorriso. "Você sabe que eu nunca decepciono."
"Só se comporte na recepção. Sem escândalos. Sem drama. E não traga aquela modelo."
Adam não respondeu. Não precisava. Nita era como as outras—divertida, barulhenta e boa para fotos. Mas temporária. Sempre temporária.
Ele entrou no seu segundo carro, outro veículo de luxo com mais botões do que ele se importava em usar, e mandou uma mensagem para ela:
"Pronta em 10?"
Nita estava esperando do lado de fora da sua cobertura quando ele parou. Pernas longas, vestido justo, batom vermelho—tudo esperado.
"Bom dia, amor," ela disse, inclinando-se para um beijo.
"Bom dia."
"Animado para o gala hoje à noite?" ela perguntou, deslizando para o banco do passageiro.
"Nem tanto," ele respondeu, ligando o motor. "Mas eu faço minha parte."
Ela riu como se não tivesse ouvido o peso na voz dele.
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Tia
Tia Nelson saltou do ônibus, seus sapatos batendo no asfalto enquanto ela corria em direção aos portões do hotel. Seu peito estava apertado. Ela estava atrasada. De novo.
Miss Pat já estava esperando na entrada, braços cruzados, lábios finos.
"Você está atrasada. De novo," ela disse asperamente. "O que foi agora? Seu irmão? Um gato doente? O ônibus se recusou a parar?"
"Desculpe, senhora," disse Tia, recuperando o fôlego.
Miss Pat revirou os olhos. "Você está sempre desculpando. Isso não paga as contas, paga? Você vai ficar até mais tarde hoje. Temos VIPs."
"Sim, senhora."
Tia entrou, seus pés já doendo. Ela nem teve chance de colocar suas coisas no lugar antes de lhe entregarem um carrinho de limpeza.
Ela tinha apenas dezenove anos, mas a vida a tinha envelhecido. Ela esteve em lares adotivos a maior parte da vida, trabalhando meio período desde os quinze, e agora tinha uma missão: manter seu irmãozinho vivo.
Freddy tinha quinze anos. Ele tinha câncer. A quimioterapia era difícil. As contas eram piores.
Faculdade? Esse era um sonho que ela deixou para trás há muito tempo. Agora, sobreviver era tudo o que importava.
Enquanto ela limpava balcões de mármore e aspirava corredores ricos, seus pensamentos estavam em Freddy. Seu sorriso. Suas mãos trêmulas. A maneira como ele sempre dizia: "Você está indo bem, T."
Ela não sentia que estava.
Às 16:45, ela foi designada para limpar a suíte VIP. Seu peito afundou. Os elites eram os piores—barulhentos, mimados e acostumados a pisar em pessoas como ela.
Ela entrou silenciosamente e congelou.
Lá estava ele.
Adam Black.
Rico. Intocável. E dolorosamente bonito.
Ela manteve os olhos abaixados. Ele nem olhou para ela. Estava ocupado fazendo alguma piada para a mulher alta e glamorosa ao lado dele.
Sua pele era pálida, cabelo escuro, postura relaxada como alguém que nunca teve que se preocupar. Sua voz suave e confiante, como se ele soubesse que o mundo pertencia a ele.
Tia suspirou e começou a trabalhar, esperando—só desta vez—poder passar despercebida.
Mas de alguma forma, ela sentia a presença dele como um calor na sala. Cada vez que ela se movia, temia que ele de repente se virasse e perguntasse por que ela estava até respirando o mesmo ar.
Ela não pertencia ali. Não nesse mundo de riqueza e beleza fria.
Ainda assim, ela manteve a cabeça baixa e limpou, esfregando e tentando não existir.
Porque um movimento errado poderia arruinar tudo.
E ela seria forçada a cometer erros.










































































































































































































