8- Sorrisos de porcelana, votos quebrados
POV Isabella:
Paula, a esposa do Tio Jorge, nos recebeu, e eu não sei o que me irritou mais, se foi o sorriso falso dela ou o cabelo cheio de laquê que transformava sua cabeça em uma nave espacial bizarra. A mulher irritante nos levou para a sala de estar, que estava lindamente decorada - eu tinha que admitir - e começou a falar como um papagaio grotesco, demonstrando o quão fútil e ridícula ela era. Não fiquei com eles, me afastei e sentei em uma poltrona perto da janela, ocupada com meu celular.
“Boa noite!” Meu tio entrou. “Que prazer ter vocês aqui na minha humilde casa, querida irmã.”
Porra! Revirei os olhos, enjoada pela falsa modéstia.
Aquela casa estava longe de ser humilde. Tínhamos quilômetros de terra bem aproveitada, com um jardim extenso, uma piscina, uma área para funcionários, uma sauna e muito mais que nem lembro porque não vou lá mais. Não era humilde agora. O homem me cumprimentou com um beijo na testa, que eu limpei enquanto ele se afastava para se juntar às mulheres, e elas conversavam sobre a dona da noite até que a infeliz apareceu.
“Boa noite a todos!” A voz soou suave, quase aveludada. Melissa estava vestida com um lindo vestido preto e saltos altos. “Demorei muito?” Ela sorriu e foi encontrar a tia, que já estava de pé para abraçá-la.
“Você está linda, Mel.”
Eu quase vomitei.
Olhando para a cena, me arrependi amargamente de ter ido. Afinal, o que eu queria provar? Que tinha esquecido tudo? Que se dane ela transando com aquele filho da puta, Caio? Que eu não me importava? Quem eu queria convencer se ainda podia sentir o gosto amargo na boca? Essa farsa não era do meu estilo. A vaca continuou conversando com os mais velhos, enquanto eu saí sem disfarçar meu abandono do jardim. Caminhei vagarosamente pela grama cortada, respirando o ar fresco e implorando a Deus por uma dose extra de paciência. Eu tinha que suportar o jantar, a arrogância, e sair como uma dama.
Longe de tudo, era fácil superar, mas estar de volta ali, especialmente naquele jardim onde brinquei tantas vezes quando criança, era impossível.
“Isabella...”
Eu me virei para a entrada, e lá estava ela. Cínica.
Um passo, dois... Eu negava me aproximar, mas a garota inocente queria me encontrar.
“Podemos conversar?”
“Conversar, Melissa? Sobre o quê você quer falar? Esmalte?!” Ela apertou os olhos e se afastou.
Nada que pudesse ser dito apagaria a revolta no meu peito.
Não havia palavras, por mais sinceras que fossem, que pudessem superar a imagem, a cena, o instante em que eu fiquei parada, mergulhada no choque do cenário injusto.
“Eu cometi um erro, tá? Me iludi com aquele idiota, mas...”
“Mas...?”
Ah, o interesse no "mas" esticou meus lábios, talvez uma razão ilustre explicasse por que minha prima e amiga tinha me apunhalado pelas costas.
“Eu te amo, Isabella. Eu sinto sua falta, e nada é igual sem sua amizade.”
Segurei a risada e apenas sorri ironicamente, claro! Amor... A garota reafirmou minha estupidez. Jesus! Será que pensei que as lágrimas que ela estava derramando poderiam apagar a transa daquela noite?
“Melissa, vai se foder!”
“Como você pode ser tão dura?”
“Como você pôde ser tão vaca?!”
Os olhares duelaram, e a fúria bem apresentada estava prestes a dominá-la.
“Meninas, os convidados chegaram.” Paula nos interrompeu, mas o contato visual permaneceu ardendo. “Mel, o Ruben está na sala com o primo dele, venha vê-lo.”
Ela interrompeu a tempo para a merda não respingar no jantar. Tentei controlar meu âmago, porque chorar não era o que eu queria fazer. Sentir-me frágil, magoada na frente deles, estava longe de mostrar que eu tinha superado a traição. Eles tinham ignorado meus sentimentos, pisado na minha dignidade como se eu tivesse que sentir a faca ferindo meu coração.
Cobri minha boca e engoli minhas lágrimas. Não!
“Que se dane, eu não aguento nenhum deles, não adianta eu estar aqui...”
Cheguei à sala em tempo recorde, pronta para mandar todos se foderem e lutar contra qualquer protesto, mas o destino, como um brincalhão, desarmou qualquer arma que eu tivesse em mãos. Meu sangue pulsou diferente assim que reconheci um dos convidados.
