6- Entre tesouras e segredos
POV Isabella:
Bem-vindo ao Shopping JK Iguatemi—essas palavras brilhavam na placa prateada acima da entrada. O tipo de lugar onde eu poderia fingir ser rica sem que ninguém questionasse isso (ou me chamasse de louca). Cheio de famílias e pessoas tão livres quanto eu e minha mãe, era meu sonho um dia entrar na Gallerist e gastar uma grana séria sem me preocupar com a falência. Mas como todos os shoppings de luxo, também tinha lojas acessíveis como C&A e Riachuelo, atendendo a todos os estilos e orçamentos.
E eram nessas que eu faria minhas compras.
Ainda hesitante em estourar o cartão de crédito da minha mãe, escolhi apenas algumas peças—estrategicamente selecionando coisas que combinassem com o que eu já tinha. Mas Dona Ana me surpreendeu, enchendo meus braços com suas escolhas. Eu não discuti—apenas aceitei os presentes.
Caminhamos despreocupadamente, olhando vitrines, apenas aproveitando a companhia uma da outra—algo que não fazíamos há muito tempo. A mulher ao meu lado era uma guerreira, tendo construído seu nome como cabeleireira quando eu ainda era criança. Naquela época, morávamos em uma casinha de quatro cômodos na Zona Norte, constantemente mudando de um lugar para outro. Mesmo sem recursos, ela transformou um dos cômodos em seu primeiro salão, começando apenas com coragem. Aos poucos, ela construiu uma clientela fiel e, com isso, estabilidade financeira. Então Marcos apareceu, trazendo esperança. Juntos, eles alugaram um espaço na Zona Sul—já que correr havia se tornado nosso destino novamente, e a casinha não era mais um lar. Um empréstimo arriscado, mas necessário, depois, a Cherry Fashion encontrou seu novo endereço: Shopping Iguatemi.
E lá estávamos nós.
"Agora, cabelo e unhas?" ela sugeriu enquanto subíamos na escada rolante. "O que você acha?"
Excelente proposta.
"Siiiiim! E eu vou dar um oi pro Marcos enquanto isso."
Ela assentiu, e nos dirigimos ao salão no fim do andar.
"Oh meu Deus, maravilhosa!" o cabeleireiro gritou assim que me viu. "Meu amor, que saudade!"
"E aí, Marquito, como você tá?"
"Maravilhosamente bem, menina." Ele me puxou para um abraço, beijou minha testa e então se virou para minha mãe. "Olá, chefe!"
Ela piscou para ele antes de examinar o interior moderno e elegante do salão.
"Marcos, vem cá."
"Sim, chefe."
"Você poderia dar um jeito naquela bagunça ali?" ela brincou, apontando para mim—mesmo que houvesse uma cliente realmente precisando de atenção bem na linha de visão dela.
"A bagunça sou eu?" Coloquei a mão no peito, avaliando meus cachos no espelho de corpo inteiro perto da entrada. "Estou feia, Marcos?" Fingi choramingar.
"Como se." Ele já estava ao meu lado. "Mas essas pontas poderiam ser aparadas... Talvez um tratamento de botox para domar o volume. O que você acha?"
Honestamente, cortar meu cabelo não estava nos meus planos. Eu amo meu cabelo longo, castanho-escuro—um pouco abaixo da cintura—mesmo que ele nunca me obedecesse, sempre com mechas rebeldes roubando horas do meu tempo na frente do espelho.
Mas uma mudança radical poderia ser divertida.
"Marcos, eu topo. Corta."
"Que honra—vou dar um novo visual para a universitária."
O cabeleireiro não hesitou. Primeiro, seu assistente lavou meu cabelo para um tratamento químico leve, que ficou por um tempo antes de ser enxaguado. Uma vez livre, Marcos me levou pelo braço até sua estação, colocou uma capa lilás sobre mim e me olhou como um artista travesso. Ele pegou suas tesouras e se transformou no Edward Mãos de Tesoura.
Não escondi meu pânico quando os primeiros fios caíram no chão. Meu coração acelerava—quase desisti, rezando silenciosamente em arrependimento, sofrendo em antecipação. Marcos apenas ria, aproveitando completamente meu tormento. Sem confiança, fechei os olhos e deixei nas mãos de Deus.
Uma eternidade depois...
"Abra os olhos, Isabella," ordenou o homem sem coração - mas eu não ousei. "Abra-os, garota. Veja minha obra-prima."
Minhas pálpebras se levantaram lentamente.
Uau...
"Deus... Marcos! Está perfeito, eu amei! Obrigada!"
Saltei da cadeira depois que ele cuidadosamente me limpou, removendo uma quantidade considerável de cabelo que havia escapado da capa. Corri até o espelho gigante na entrada, impressionada com a transformação.
"Gostou do comprimento?" ele perguntou orgulhoso. "Veja como destaca seu pescoço."
"Sim, muito."
Marcos tinha cortado tudo, deixando apenas um pouco abaixo dos ombros. O tratamento suavizou meus cachos, e não importava como eu jogasse o cabelo, ele caía perfeitamente.
"Eu amei, Marcos!" Beijei sua bochecha. "Obrigada!"
"Olha o tanto de shampoo que você vai economizar," mamãe brincou, depois se virou para uma funcionária. "Olga, termine com a Graça, por favor." Ela deu a ordem e entrou no escritório.
"Agora, unhas e pés - depois uma limpeza de pele."
Acabamos ficando no salão muito mais tempo do que planejado, e eu estava morrendo de fome. Mamãe sugeriu algo que eu estava relutante em concordar: almoço no Delicius, o restaurante do meu tio Jorge - pai da Melissa, minha prima traidora. O homem rico e esnobe era dono de uma cadeia de restaurantes de alto padrão.
"Mamãe, quantos restaurantes existem por aqui?" Eu gemi. "Precisamos mesmo comer lá? A comida nem vai digerir direito."
"Pelo amor de Deus, deixe isso pra lá. Já faz dois anos, Isabella."
"Não importa. Eu não quero nada com eles."
Ela me estudou cuidadosamente, depois se aproximou.
"Seu tio nem vai estar lá. Por favor."
Nunca entendi o carinho da mamãe pelo meu tio. O homem era arrogante e nunca levantou um dedo para nos ajudar quando precisávamos. Pior - sempre que tinha a chance, esfregava as dificuldades dela na cara dela. As histórias sobre meu pai? Todas vinham das indiretas dele. Eu era apenas uma menina de cinco anos que, até então, nunca tinha tido um pai presente. E eu estava bem com isso - mamãe sempre foi suficiente. Mas a cobra, insatisfeita, soltou a verdade para mim do nada:
"Isabella, seu pai é um criminoso cruel. Ele batia na sua mãe enquanto ela estava grávida de você, e continuou fazendo isso depois que você nasceu. Ele quase a matou - e teria matado, se eu não tivesse chegado a tempo. Porque matar é fácil para ele. Ele é um assassino."
Chocada, aterrorizada, furiosa, chorei por uma semana, tentando processar a crueldade de um homem cujo rosto eu mal lembrava - apenas sua voz áspera e amarga. Odeio essas lembranças.
"Vamos, Isabella, só desta vez..." Persistência é o nome do meio dela. "Por favor, querida?"
"Ai, tá bom!"
No final, eu concordei - só porque meu cabelo estava incrível e o dia tinha sido perfeito até então.
Como todos no Delicius conheciam a mamãe, nos colocaram em uma ótima mesa, serviram-nos um excelente vinho e até trouxeram um filé mignon com molho Madeira - entregue pessoalmente pelo chef. No começo, pensei que o homem estava flertando com ela (e talvez por isso ela tivesse insistido em vir aqui), mas eu estava errada - ele estava apenas bajulando a irmã do dono.
Comemos em silêncio - caramba, a comida estava divina. Doía admitir.
Enquanto mamãe conversava com a tia Paula ao telefone, eu me distraía rodando o último gole de vinho no meu copo. Nunca fui intuitiva - não consigo nem meditar por um segundo sem que minha mente dispare. Mas algo me incomodava: um calafrio lento desceu pela minha espinha, me tirando dos meus pensamentos.
