PEGUE TODO O RESTO
Ponto de vista de Emerson
Acordei com a luz suave da manhã filtrando pelas cortinas, do tipo que fazia tudo parecer enganosamente pacífico. Meu corpo doía da correria do dia anterior, os músculos protestando enquanto eu me espreguiçava e esfregava o rosto. Soltei um suspiro pesado ao olhar para a outra cama do outro lado do quarto. Impecável. Nem um amassado nos lençóis.
Adam Pierce nem sequer dormiu aqui.
Não que eu estivesse reclamando. Provavelmente era melhor assim. Eu não gostava dele. E se ele não estava aqui, eu não precisava suportar sua presença, com sua atitude de superioridade e seu nariz tão empinado que eu esperava que ele quebrasse o pescoço.
Passei a mão pelo cabelo, soltando um suspiro forte antes de me arrastar para fora da cama. Fiz minha rotina matinal— banho rápido, vesti um moletom preto e jeans rasgados, peguei minha mochila. O espelho refletia meus olhos cansados, as sombras sutis abaixo deles um lembrete de que dormir era um luxo que eu também não podia me dar.
Apesar de tudo que estava acontecendo na minha vida, a escola era uma coisa que eu conseguia administrar. Eu não era apenas inteligente— eu era o tipo de aluno que tirava A+ em uma prova e fazia as pessoas se perguntarem se eu tinha colado. Mas eu não colava, nunca. Eu trabalhava duro para isso. Conhecimento era poder, e se eu não tivesse mais nada, pelo menos tinha isso.
O auditório estava lotado de estudantes quando cheguei. Sentei no meu lugar de sempre no fundo, desligando-me das conversas ao meu redor. A voz monótona do professor continuava, mas eu absorvia cada palavra, escrevendo notas com o entusiasmo de quem vive para isso. A escola era uma distração, uma maneira de manter minha mente longe de tudo que estava desmoronando ao meu redor. Se eu jogasse minhas cartas direito, teria meu diploma, e nada mais importava.
As horas se fundiram em uma névoa de palestras, tarefas e lutando para atravessar o campus lotado. Quando saí da minha última aula do dia, ouvi uma voz familiar gritar meu nome. "Emerson!"
Virei-me para ver Sam acenando para mim. Ela era uma estudante do terceiro ano, uma das poucas pessoas que eu realmente tolerava. Ela era espirituosa, tinha uma atitude descontraída, e eu a tutoreava quando ela precisava.
"Oi, Sam," eu disse, indo em sua direção. "Como está?"
Ela gemeu melodramaticamente. "Absolutamente horrível. Eu preciso de uma sessão de estudo o mais rápido possível. Minha prova é daqui a uma semana, e se eu falhar, minha mãe vai me deserdar e me mandar para a faculdade de direito. Você consegue me imaginar como advogada?"
Eu dei um sorriso. "Pensamento assustador, todos iriam para a cadeia."
"Exatamente! Então, me dá uma força?"
"Claro. Mesmo lugar?"
Ela assentiu, parecendo aliviada. "Você é o melhor, Emerson."
Eu acenei para ela, observando-a ser engolida pela multidão. Estava prestes a voltar para o meu dormitório quando algo— ou melhor, alguém, suponho— chamou minha atenção.
Uma pessoa familiar estava perto da entrada do campus. Meu coração deu um salto até eu lembrar quem era. "Ivy?"
Ela se virou, um sorriso largo no rosto. "Oi, mano."
Antes que eu percebesse, a envolvi em um abraço de urso, levantando-a do chão e girando-a. Ela riu, os braços ao redor dos meus ombros. "Deus, senti sua falta," eu disse, colocando-a no chão.
Ela sorriu para mim. "Também senti sua falta. Faz tempo."
Dei um passo para trás, observando-a. Ela tinha crescido, mas a mudança mais marcante eram as raízes verdes do cabelo. "Você pintou de verde?" Levantei uma sobrancelha, enquanto meu peito se aquecia. Eu sabia que o pai odiaria isso.
Ela sorriu. "Queria ser como você, mano."
Eu soltei uma risada. "Má ideia."
Ela me deu um sorriso maroto, um que eu não via há meses. Me empurrou levemente no ombro. "Você não parece tão mal, bom ver que sua cabeça ainda é grande como sempre."
Eu ri e a empurrei de volta. Ela riu, mas um momento depois o sorriso desapareceu do seu rosto e sua expressão ficou séria. "Precisamos conversar."
Meu estômago afundou. Ivy nunca ficava triste perto de mim, quando conseguíamos encontrar tempo para nos ver. "Sobre o quê?"
"Mamãe."
Meu corpo ficou tenso com a palavra. Será que algo tinha acontecido com ela? Eu ainda podia guardar um pouco de ressentimento por ela, mas isso diminuía toda vez que Ivy me contava como ela sempre ficava brava com o papai por minha causa. Eu amava aquela mulher mais do que a própria vida. "O que tem a mamãe?"
Ivy pausou, olhando para baixo antes de encontrar meus olhos. "Ela está doente, Emerson. Câncer em estágio três. Ela já começou a quimioterapia."
O mundo girou por um segundo. Tudo rodou, as formas e cores se misturando para criar uma imagem em movimento tão chocante que me deu dor de cabeça. Câncer? Passei a mão pelo rosto, tentando refocar minha mente. Meu peito apertou enquanto eu lutava para ouvir as palavras que seguiam essa notícia devastadora. "O quê?"
Ela mordeu o lábio, falando mais suavemente agora, sua voz embargada. "É grave, mas eles descobriram cedo o suficiente para haver esperança."
Engoli em seco, passando a mão pelo cabelo. "Por que ninguém me contou?"
Ela ficou quieta e uma onda de raiva cresceu na minha garganta. "Você sabe por quê," Ivy disse gentilmente.
Eu sabia, naturalmente. Papai não queria que eu soubesse. Respirei fundo, tentando relaxar. "E o papai?"
A expressão de Ivy ficou sombria. "Ele... bem, ele ainda é o papai. E ele está fazendo algo que você realmente não vai gostar."
Olhei para ela, uma bola de apreensão pesada no meu estômago. O que mais esse homem poderia fazer? "O que agora?"
"Ele está doando seu fundo fiduciário para caridade."
Houve um silêncio pesado entre nós, enquanto Ivy me olhava torcendo as mãos. Meu estômago revirava, a raiva borbulhando sob minha pele. "Esse não era o acordo, Ivy. Eu tenho direito a esse dinheiro quando me formar. Por lei."
Ela assentiu. "Eu sei. E ele sabe. Mas ele vai fazer isso de qualquer forma. Ele não vai dar pra mim também, porque sabe que eu daria pra você."
Cerrei os dentes, meus punhos se apertando. Passei os últimos dois anos trabalhando só para pagar a faculdade, pegando empréstimos estudantis porque sabia que tinha um fundo fiduciário em meu nome. E agora, quando estava tão perto da linha de chegada, meu pai estava tirando isso de mim. Levaria anos para pagar esses empréstimos sem aquele maldito fundo fiduciário.
Ivy se mexeu, parecendo desconfortável. "Eu sei que é um exagero, e eu nem deveria pedir, mas... ele está te dando uma chance por causa da mamãe."
Exalei bruscamente. "Ivy—"
"Se você apenas—"
"Dane-se ele," cortei, minha voz seca. "Dane-se ele."
Os ombros dela caíram, e ficamos ali em silêncio por um tempo. Depois de um tempo, ela estendeu a mão, apertando meu braço. "Desculpe, eu tinha que tentar."
Eu consegui apenas um pequeno sorriso cansado. Eu não estava bravo com ela. "Eu sei."
Ela suspirou. "Vamos. Vamos tomar um café ou algo assim antes de eu ir embora."
Assenti, seguindo-a enquanto caminhávamos até o café mais próximo. Minha mente era uma tempestade de emoções, mas por enquanto, eu tinha minha irmã. E por um momento, por um breve e belo momento, isso era o suficiente.































































































































































