Satisfazer

Demorou oito horas para chegar aqui de ônibus, e quando finalmente cheguei, já era de manhã cedo. Corri para o clube para onde Stacy tinha me transferido, o Satisfy, para preencher alguns papéis e me colocar na lista de funcionários. Felizmente, o irmão de Stacy havia dito ao gerente, Kevin, que eu não seria registrada na folha de pagamento. Em vez disso, eu receberia em dinheiro, assim como Stacy tinha feito por mim. Foi um alívio, realmente; eu não precisava de um rastro de papel, e não queria que as pessoas ficassem fazendo perguntas sobre o porquê. Kevin me colocou na lista para aquela mesma noite, então eu tinha tempo de sobra para encontrar o hotel que havia pesquisado e poder tomar um banho e comer algo antes de começar meu turno.

“Ok, bem, seja bem-vinda ao Satisfy! Estou agradecido que Luciano tenha te transferido para cá. Acabamos de perder três das nossas melhores garotas, então estamos extremamente desfalcados agora,” ele disse.

Ele parecia ser uma pessoa legal. Cabelo loiro sujo e curto, porte médio, e um sorriso que de alguma forma me dizia que sua mãe devia amá-lo muito bem.

“Hmm,” murmurei em resposta. Queria ser educada, mas ao mesmo tempo, não gostava de revelar qualquer informação desnecessária a menos que fosse absolutamente necessário. Era mais seguro assim, realmente.

“Ok, ótimo. Todo o papel está preenchido, então se você quiser voltar aqui às sete, podemos te arrumar com um guarda-roupa, fazer uma visita guiada e te colocar no palco às oito.”

“Um guarda-roupa? Tenho algumas peças minhas…”

“Ah não, só venha com suas roupas normais. Luciano gosta de dar a cada garota seu próprio guarda-roupa com tudo o que precisa.”

“Ah. Ok, então. Te vejo às sete... Obrigada.”

Luciano era o irmão de Stacy, que eu soube que possuía mais de vinte clubes pelo país, a maioria dos quais ele gerenciava através da família. Mas este, este era dele. Stacy me disse quando ligou para ele que ele estava mais do que feliz em me transferir e precisava de mim no clube que ele gerenciava pessoalmente.

Achei estranho a princípio. Por que não me enviar para qualquer um dos outros? Mas acho que se Kevin estava dizendo que estavam desfalcados, isso fazia sentido. Era conveniente para ele.

Consegui chegar ao hotel. Tinha dinheiro suficiente para uma semana de estadia, desde que não gastasse nada em outro lugar. Isso significava que o chá, café e biscoitos de cortesia no meu quarto seriam a única coisa que eu comeria por um tempo. Isso não me incomodava muito; meu corpo estava acostumado a funcionar com menos do que a quantidade normal de comida. Peguei um dos pacotes de açúcar e sentei na colcha marrom e mofada em cima da cama dura. Eu teria que ir devagar com o pouco que tinha, então, por enquanto, achei que um pacote de açúcar seria suficiente até eu terminar meu turno à noite. Talvez então eu me permitisse um dos quatro pacotes de biscoitos. Rasguei a parte de cima do pacote, sem me importar de deixar o lixo cair no chão. O lugar não parecia muito limpo para começar, então não achei que faria muita diferença. Deixando o açúcar cair na língua, deixei-o descansar ali enquanto se dissolvia, um truque que aprendi quando era mais jovem, sendo trancada no meu quarto por dias a fio pelo meu pai, sem comida ou água. Ocasionalmente, um dos funcionários da casa deslizava algo por baixo da porta. Sempre tinha que ser pequeno o suficiente para caber na fresta. Normalmente um pedaço de pão amassado ou um doce. Aprendi rapidamente a comer pequenos pedaços ao longo de um longo período de tempo e a deixá-los na língua para enganar meu cérebro a pensar que eu tinha mais comida do que realmente tinha.

Espantando a lembrança, fui até o banheiro mal iluminado conectado ao meu quarto. Não era muito, mas vinha com um pouco de sabonete e xampu que eu sabia que precisava desesperadamente. Liguei a água e deixei formar vapor antes de entrar, sibilando quando a água atingiu os pontos sensíveis nos meus pés de tanto correr sem sapatos. Usei todo o pequeno xampu, que não fez muito além de deixar meu cabelo seco e emaranhado. O sabonete era ainda pior, fazendo minha pele parecer borracha, mas pelo menos tirou o fedor que eu tinha adquirido, e eu podia ser grata por isso.

Saindo do chuveiro e usando a toalha um pouco manchada para me secar, usei os dedos para pentear a bagunça do meu cabelo e fui até a bolsa com as coisas que consegui pegar do Thrive antes de sair. Não podia voltar ao meu quarto no motel de lá, então teria que me virar com um par de calcinhas de stripper e as roupas que já estava usando. Acho que foi bom Kevin mencionar que eu teria um guarda-roupa no clube. Talvez houvesse algumas coisas que eu poderia usar até ter um pouco de dinheiro para comprar roupas de segunda mão. Era pouco depois das seis quando decidi pegar outro pacote de açúcar antes de pegar minha bolsa e sair para o clube. Precisaria de um pouco de energia para caminhar até lá e passar pelo turno.

"Lilly! Você está adiantada," disse Kevin quando entrei pelas portas principais do clube.

O lugar ainda estava quieto, com apenas alguns funcionários que pareciam estar preparando tudo para a noite.

"Ah, sim, desculpa. Não sabia quanto tempo levaria para chegar aqui, então achei melhor chegar cedo do que tarde."

"Não, tudo bem! Podemos começar com seu guarda-roupa, conhecer as outras garotas e te preparar para a noite, se você quiser."